domingo, 7 de fevereiro de 2010

LÉGUAS


Eu me arrependo de tudo isso
De cada palavra escrita
Cada pensamento buscado
Cada mágoa sentida
Cada dor vista e encontrada
No caminho de outro
E dentro de mim
Renego tudo o que fiz
E escrevi
Passaria mil anos
Açoitando-me
Se este castigo
Livrasse-me desse peso
De arrependimento
E tristeza
Porque nunca fui feliz
Empunhando um lápis
E escrevendo

Eu me arrependo
E me culpo
Se esta vida escolhi
E ficaria feliz
Ao menos por um instante
Se soubesse que
Que outro caminho existe
O qual eu pudesse seguir
Porque toda essa minha dor
Faz-me perder os sentidos
E me arrasta por uma estrada
Deserta, de chão batido, esburacada
Que esfola meu corpo
E me liberta

Eu queria ser feliz
Como já fui
Longe destas pessoas que ignoro
E deste chão que repudio
Lisboa, Paris, Florença, Atenas
Cairo, Havana, Pamplona
Qualquer lugar
Menos este

Arrependo-me
Por ter acreditado em poesia
E nas ilusões que um coração
Pode trazer em forma de sentimentos
Deixo lápis e papel sobre a mesa
Atravesso a rua
Além-mar
É para onde vou
Viver com as ondas
Dormir com os pássaros
Até que o vento
Leve-me
Longe
E para sempre
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LÉGUAS
Seg, 08 de Fevereiro de 2010

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Um comentário:

Rackel F. F. Tambara disse...

JcostaJr, transcrevo aqui, o que já publiquei lá no Autores e deixo todo o meu respeito por uma obra consistente como a tua.
O poeta tem a liberdade para transpor os limites de si mesmo, exacerbar seu sofrimento, ruminá-lo e depois colher, delicadamente, sob a forma de poema, o que sobrou da criação.