quinta-feira, 5 de novembro de 2009

MUITO ALÉM DO JARDIM


Todo aquele que escreve é um apaixonado.

Afinal, por que dar o melhor de si a quem jamais irá conhecê-lo

Por que desnudar-se para olhos alheios, possessos de cobiça

Que o desejam para se apoderarem do seu melhor sentimento

E sua única vontade, pra depois, de usá-lo, jogá-lo

No quintal imundo de uma consciência perdida

Por que imaginar que os olhos que te lêem

Querem entendê-lo, e assim, apaziguar

O tormento que carregas dentro de ti

Que te consome a cada instante

Em forma de palavras

Escritas

Malditas

Por quê?

Por que passar os dias a viver para os outros

E conceber um sonho que vai deixá-lo

Assim que abrires os olhos

Para o instante seguinte

Quando deitar o lápis

Querendo descansar

Imaginando-se convicto

Que cumpristes a missão

Quem és tu?

Pensas que és Deus?

E que todos aqueles olhos que te lêem

Acreditam nisto?

És um jardineiro!

Que sem plantas a cuidar

Sem flores a sorrir

Percorre a lembrança dos lírios e das gérberas,

Das orquídeas e violetas

E deixa-se sentar no gramado úmido

Num final de tarde como este

Esperando o pôr do sol

Que não demora a vir

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